A minha casa é um mosaico vibrante de vidas e cores, um refúgio de amor incondicional onde sete cães e sete gatos coexistem em perfeita harmonia (bem como duas cabras, patos, coelhas e galinhas). Cada um deles trouxe consigo uma história única, um percurso de vida que se cruzou com o meu de forma inesperada e profundamente transformadora. Alguns chegaram ainda jovens, cheios de energia e curiosidade. Outros, já adultos, carregavam nos olhos a sabedoria de quem já viu muito do mundo.
Há muitos anos que dedico parte do meu tempo a visitar associações e a participar em campanhas de adoção. Foi nessas visitas que percebi uma triste realidade: animais pretos e séniores são frequentemente deixados para trás. Esta constatação levou-me a refletir sobre os preconceitos e as barreiras que ainda existem na nossa sociedade.
Os animais pretos, especialmente os gatos, são vítimas de superstições e crenças infundadas que os associam à má sorte ou ao ocultismo. Uma visita a um abrigo revela, frequentemente, uma triste fila de gatos pretos que esperam, muitas vezes em vão, pela oportunidade de encontrar um lar. Sendo eles capazes de amar e ser amados, enfrentam uma rejeição que nada tem a ver com a sua personalidade ou carácter.
Por outro lado, os animais séniores enfrentam desafios diferentes, mas igualmente injustos. Muitos potenciais adotantes preferem crias ou animais jovens, acreditando que terão mais tempo com eles ou que serão mais fáceis de treinar. Esta perceção ignora a riqueza que um animal sénior pode trazer a uma casa – são frequentemente mais calmos e capazes de se adaptar rapidamente a novas rotinas e ambientes; a sua gratidão e sabedoria são palpáveis, fruto de anos de experiência e de uma profunda capacidade de amar.
A situação torna-se ainda mais complicada quando um animal é preto e sénior. A dupla barreira torna a sua adoção praticamente impossível, condenando muitos destes animais a passarem o resto das suas vidas em abrigos. Esta realidade é profundamente injusta e exige uma mudança de mentalidade.
Na minha casa, a diversidade de cores e idades é uma constante fonte de alegria e aprendizagem. Tenho cães pretos, brancos e pretos e brancos, gatos de várias cores e feitios, e cada um deles provou que o amor não tem cor nem idade.
Adotar um animal é uma decisão que deve ser ponderada cuidadosamente. Antes de tomar essa decisão, é importante considerar diversos fatores:
- O tempo e a dedicação necessários para cuidar de um animal;
- Os custos associados a alimentação, cuidados veterinários e outras despesas;
- O impacto que a chegada de um novo membro pode ter na dinâmica familiar existente.
A adoção não deve ser vista como uma solução impulsiva, mas sim como um compromisso a longo prazo que implica responsabilidade e amor incondicional, seja ele preto, sénior, ou ambos.
No final do dia, olho para eles e sinto-me de coração cheio. Eles enriqueceram a minha vida de formas que nunca imaginei. A verdadeira beleza e sabedoria vêm de dentro: é essa a lição que levo comigo em cada nova adoção.